Titulo: Tartarugas Até Lá EmbaixoAutor: John GreenAvaliação: ☕☕☕☕☕💓
Ano: 2017
Páginas: 237Idioma: portuguêsEditora: Intrínseca
Sinopse: A história acompanha a jornada de Aza Holmes, uma menina de 16 anos que sai em busca de um bilionário misteriosamente desaparecido – quem encontrá-lo receberá uma polpuda recompensa em dinheiro – enquanto lida com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Repleto de referências da vida do autor – entre elas, a tão marcada paixão pela cultura pop e o TOC, transtorno mental que o afeta desde a infância –, Tartarugas até lá embaixo tem tudo o que fez de John Green um dos mais queridos autores contemporâneos. Um livro incrível, recheado de frases sublinháveis, que fala de amizades duradouras e reencontros inesperados, fan-fics de Star Wars e – por que não? – peculiares répteis neozelandeses.
O livro Tartarugas Até Lá Embaixo eu adquiri quando eu era assinante do Turista Literário ... As expectativas dos leitores que conheciam o John Green pelo "A Culpa é das Estrelas" eram enormes... Até pra o próprio autor, ele fala claramente isso em uma das suas entrevistas . Acredito que a minha demora em ler esse livro foram o tempo suficiente para curtir a leitura!
A Capa de Livro é Tipográfica: Ao desenvolver uma capa tipográfica o designer busca valorizar as palavras que irão compor a capa do livro. Durante o processo criativo ele pode ser minimalista como pode ser extremamente expressivo. Tudo isso vai depender do tipo de fonte tipográfica que ele irá utilizar em sua composição. No caso de Tartarugas até lá embaixo o papel da Intrínseca foi mais de adaptação de uma arte que foi criada para o livro lá de fora, mas o trabalho foi bastante bem feito.
O livro Tartarugas até lá embaixo tem diversos gatilhos ao longo das páginas. Então, se você é uma pessoa com altos níveis de ansiedade, com tendência a TOC, com pensamentos intrusivos, com dificuldade para lidar com automutilação (mesmo as mais leves possíveis), peço que considere ler Tartarugas até lá embaixo somente quando estiver bastante estável.
No inicio, somos apresentados a Aza Holmes uma adolescente de 16 anos que lida com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ao decorrer da leitura somos convidados a entrar na espiral junto com a Aza. Em um movimento alucinante e descendente de descontrole e de pensamentos ruins e tristes da personagem.
“O ser humano é tão dependente da linguagem que, até certo ponto, não consegue entender o que não podemos nomear. Por isso presumimos que as coisas sem nome não são reais. Usamos termos genéricos, como maluco ou dor crônica, termos que ao mesmo tempo marginalizam e minimizam. Dor crônica não exprime a dor inescapável, persistente, constante, opressiva. E o termo maluco chega até nós sem nem um pingo do terror e da preocupação que dominam você. E nenhum dos dois transmite a coragem das pessoas que enfrentam esse tipo de dor. (…)” p.88/89
O autor John Green consegue de forma sutil indicar na sua escrita que a Aza está entrando em crise, e vai aumentando a pressão e a tensão na forma como escreve e descreve o crescendo da crise. Colocando o leitor entre uma linha tênue entre ficção e a realidade nos colocando naquele cantinho frio e escuro da mente da personagem Aza.
“Penso: Você nunca vai se livrar disso. Penso: Você não controla seus pensamentos. Penso: Você está morrendo, e dentro de você tem bichos que vão comer seu corpo até irromperem pela pele. Eu penso e penso e penso.” p.91
Eu já tive outras experiências
literárias que o personagem tinha algum sofrimento psicológico. Não é o meu
estilo preferido de narrativa mostrando-se na maioria das vezes um tipo de
leitura angustiante...
Quando comecei a ler Tartarugas até lá Embaixo eu já
estava acostumada com o tipo de literatura do John Green ele te faz sentir as
coisas que os personagens estão sentindo no decorrer da leitura.
Eu me apeguei a personagem Aza de
uma maneira especial. Foi necessário ler o que se passa com alguém com sérios
problemas mentais. Uma pessoa que estava cercada de quem realmente se importava
com ela, mas mesmo assim, seus problemas eram tão gigantes que não permitiam
que enxergasse fora do seu próprio mundinho. Aza é sim muito auto - centrada e
egocêntrica. Mas ela não consegue fugir da espiral da ansiedade e da angústia
que é viver dentro de seu próprio corpo, com uma mente que a sabota a todo o
momento
“Acho que não gosto de ter que viver num corpo, se é que isso faz sentido. Acho que talvez, no fundo, eu seja só um instrumento, uma coisa que existe apenas para transformar oxigênio em dióxido de carbono, um mero organismo nessa… nessa imensidão toda. E é um pouco aterrorizante pensar que o que eu considero como o meu… abre aspas, meu eu… fecha aspas… não está nem um pouco sob o meu controle.” p.102
O Transtorno Obsessivo Compulsivo
tem várias nuances... E nenhuma delas é tão simples de não compreender cada
pensamento: você não precisa ficar abrindo um machucado o tempo todo para ver
se está infectado ou com pus. Muitos menos para reforçar a sensação de que você
é você e está aqui. É óbvio que você não pegou uma bactéria
mortal só porque entrou em um hospital.
“(…) E se a gente não pode escolher o que faz nem o que pensa, então talvez a gente não seja real, sabe? Talvez eu seja uma mentira que estou sussurrando para mim mesma e nada mais.” p.102
Sentimos uma tristeza que ela
sente pela inadequação social que ela representa. Dá pra sentir todo o medo que
Aza sente de que, talvez, ela nunca se torne um adulto funcional, e sempre
dependa da mãe e de remédios para mantê-la estável.
A relação com os remédios é outra
coisa que deixa você angustiado. É óbvio que os remédios ajudariam a
estabilizar sua mente e a encontrar mais tranqüilidade na sua rotina. Mas os
remédios na verdade são uma fonte de contradição e angústia para ela, porque
como ela pode ser normal se precisa de medicação para estar entre outras
pessoas normais? Senti falta de um possível atendimento Psicológico onde talvez
diminuiria a angustia de Aza.
A mente de Aza é o principal
condutor da história... O mistério do desaparecimento do pai de Davis foi uma
forma de trazer Davis de volta para a vida de Aza, construir mais um pilar de
desenvolvimento em sua “inadequação” social e de relacionamento com as pessoas.
Antes a gente só conhecia seu relacionamento com Daisy, a “melhor amiga” que
estuda na mesma escola. Com Davis, a gente passa a ver seu relacionamento
amoroso, e como também pode ser mais uma fonte de tensão para Aza.
As minhas leituras de 2020 |
Davis e Aza são amigos desde pequenos, mas se afastaram com o passar dos anos. A princípio o ressurgimento de Aza na vida de Davis gera toda uma suspeita se é por conta da recompensa por informações sobre o desaparecimento de seu pai, ou por conta da amizade deles mesmo. Mas reconectar com Davis traz sentimentos que Aza não percebeu que existiam e também toda uma série de problemas a serem desenvolvidos por culpas de abraços, beijos, e interações que namorados costumam ter.
De certa forma, todos os
personagens com que ela interage são “quebrados” à sua maneira. Mas perto de
Aza, eles conseguem passar uma normalidade que a menina não consegue alcançar.
Davis é o menino rico mas que cresceu sem nenhuma demonstração de amor paterno;
Daisy é a menina pobre que vive “à sombra” da amiga complicada e difícil;
Mychal é o artista que quer encontrar seu espaço e conquistar o coração da
amiga; a mãe de Aza tem que lidar com o sofrimento de ter perdido o marido e
não conseguir “controlar” os distúrbios da filha…
“(…) No fundo ninguém entende o que se passa com o outro. Está todo mundo preso dentro de si mesmo.” p. 228
“É como se, quando eu olhasse para mim mesma, não visse nada definido… só um monte de pensamentos, atos e contextos. E muitos na verdade nem parecem meus. Muitos pensamentos eu não quero pensar, muitas coisas eu não quero fazer, é mais ou menos isso. Quando procuro o que eu sou, nunca encontro.” p.228
Tartarugas até lá embaixo não é
um livro feliz... Nas ultimas páginas. eu tive impressão de estar lendo "Uma
aflição imperial..." [ Só os leitores do "Culpinha" vai entender
essa referencia]. Okay!
“O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais, sabe? Na vida real, algumas coisas melhoram e outras pioram. E aí a gente morre.” p. 258
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Coloquei esse livro numa wishlist na Amazon de livros que tratam de saúde mental. Apesar de não ter me dado bem com os livros que li do João Verde (hehe), estou disposta a dar uma chance a esse <3
ResponderExcluirAdorei sua resenha e os pontos que você abordou!
O João Verde te faz sentir a aflição dos personagens... E isso é um ponto da leitura que pode parecer muito cansativo. Mas, é um livro bastante interessante sobre saúde mental.
ExcluirBoa noite, eu achei interessante o tema abordado. Tenho TOC mas está sob controle, mas já tive dias de insanidade e confesso que tive receio de como seriam as minhas reações na pandemia. Por enquanto, estou em paz, mas redobrei meus cuidados.
ResponderExcluirQuanto ao livro, eu não sou fã do autor. Tentei ler o livro "a culpa é das estrelas". Mas não me agradou e eu dei o exemplar para uma amiga que adorou. Não é o meu estilo. Mas, confesso que fiquei curiosa com a abordagem do tema e dos personagens explorados mencionados em sua resenha.
bacio
Li esse livro assim que lançou e simplesmente me apaixonei <3 é meu favorito, passou até quem é você alaska *-* John Green é meu tudoooo
ResponderExcluirEu estava lembrando desse livro hoje mesmo! Li ele em 2018 e lembro que gostei muito. Eu curto bastante a escrita do John Green e tô louca pra ele lançar logo algo novo!
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