7 de agosto de 2018

15 anos de OC - Um estranho no paraiso.


Eu comecei a assistir OC - Um estranho no paraiso em 2016 (Quando assinei a Netflix) foi uma das  séries que eu comecei assistir devagar... me deliciando a cada episódio. No dia 5 de agosto de 2018 a série fez 15 anos!

Irei sentir saudades da Summer e Seth que é o meu casal favorito durante todas as temporadas chorei demais quando eles duvidaram da relação deles por serem muito jovens... As festividades do Natanukká... O capitão aveia e a Princesa Faisca... A série ficticia The Valley... e por ultimo a coelhinha panqueca.

No dia 5 de agosto de 2003, Ryan Atwood chegou à Orange County tornado essa série um fenômeno de cultura pop. 

Os criadores e autores do Teatro Grego foram originais,Eles é que começaram a conduzir os conceitos que nós usamos hoje como dramaturgia. A inspiração era tão nova e entorpecente, que parecia ritualística. Hoje em dia, só repetimos fórmulas, incorporando uma ou outra novidade, outro ângulo, outra perspectiva, que acaba tornando o óbvio menos previsível e o corriqueiro em surpresa. A vida imita a arte e a ficção também. Alguns autores sabem manipular as poucas notas dessa canção... 

outros nem tanto. 

Josh Schwartz está no primeiro caso. Por mais carinho que eu nutre por The OC, com um toque de nostalgia... Essa não é a minha série favorita. A série não representa originalidade bruta, mas representa originalidade derivada. Apoiando-se numa premissa básica de organização social, o moço (o mais jovem showrunner da história) levou a FOX a proposta do show, que não demorou a marcar seu nome na história como ícone pop e como referência cultural. E a ser, sem querer, analogia involuntária para a vida.

O cenário é o cotidiano, mostrando os personagens o seu núcleo social vivendo a sua rotina. Toda ficção começa com a chegada de alguém. . A rotina sempre representa segurança, sempre se refere à dinâmica que já está estabelecida. Os indivíduos costumam se agrupar entre iguais justamente para tentar preservar a força de seu cotidiano. Se qualquer movimento contrário é feito, deflagra-se uma rede de acontecimentos que atribulam a vida dessas pessoas. É assim na vida e é assim na ficção. Por isso, faz todo sentido que os movimentos desses personagens desestabilizam o mundo em questão.

As pessoas sempre seguem em suas vidas nessa mesma proporção: cumprindo prazos, hábitos, vivendo no mesmo ciclo. O tremor que bifurca os caminhos vem, quase sempre, de interferências externas.

O mundo de Sandy Cohen era totalmente monótono. Ryan (o estranho no paraíso...) não era um protagonista soberano. O "protagonismo" era a transformação que a presença dele causou na vida da família Cohen na mesma intensidade com a qual a vida do menino pobre foi transformada. a vida do menino rico Seth também transformou-se com a chegada de Ryan, Seth era fruto de um casamento que nasceu pra transgredir: Sandy era um idealista que se apaixonou por uma “patricinha”. Kirsten, entretanto, tinha vontade de ir contra a correnteza de uma tradição. Os dois se apaixonaram pelo que representavam um pro outro. No início, pode ser sido desbravador, mas logo também passou a ser rotina.Sandy vivia no meio dos ricos achando que nada daquilo o atingia e Kirsten tinha um marido engajado, que ajudava a diferenciá-la de suas vizinhas alienadas. No fim das contas, entretanto, os dois estavam mergulhados na inércia. 


Seth era o goroto Nerd. Inteligente que era considerado o maior defeito que alguém poderia ter na Escola Harbor. Não era belo o suficiente ou esportivo o suficiente pra ser popular, e para que alguém descobrisse que ele era interessante, antes precisaria se aproximar dele.


As garotas eram populares. que se ilustravam através da fraqueza pessoal de Marissa e da preguiça intelectual de Summer. Marissa era a típica garota "rebelde sem causa" que tinha aquele vazio clássico de quem não tem problemas de verdade. Já Summer forçava prioridades superficiais por achar que esse era o movimento natural do meio onde estava inserida. Todos eles, sem exceção, só cumprindo um ritual diário.


Quando Sandy levou Ryan para casa naquele dia a transformação de uma série de anseios e conflitos escondidos que redefiniram aquela sociedade. Sandy foi obrigado a se confrontar com o pouco que fazia e que pensava que era muito, Kirsten precisou ser diferente das vizinhas alienadas na prática e não só na teoria, Marissa ganhou um projeto para se preocupar de verdade, Summer foi obrigada a pensar em mais além de si mesma e Seth ganhou um amigo.

A possível transformação do Seth "o pobre menino rico" acabou ganhando protagonismo. Pois Ryan se transformou no que aquele solitário menino precisava. Um amigo… Sua vida mudou tanto assim apenas porque ele teve uma coisa que tanta gente não tem nenhum trabalho pra ter: um amigo.


A partir do momento em que o problemático Ryan Atwood chega à Orange County, a vida dessas pessoas começa a se reconfigurar, mudando não só comportamentos, como também personalidades. E esse foi o grande diferencial de The OC, que em sua Primeira Temporada, surpreendeu o público e a crítica com uma forma mais debochada, irônica e sagaz de fazer televisão para adolescentes.

Benjamin McKenzie era o rapaz perfeito para o personagem por conta de sua atitude bad boy. Esse era o aspecto mais importante sobre Ryan, que precisava chocar o mundo asséptico de Kirsten Cohen, única personagem com força suficiente para impedir a permanência dele naquele sistema. Uma boa ficção sempre trabalha com opostos, e por isso The OC deu certo tão de cara.


O primeiro episódio já nos deixa completamente fascinados pela expectativa do que Ryan ia provocar naquela sociedade tão “perfeitinha”. Os preconceitos acerca de todos os personagens foram sendo discutidos e superados, passo a passo. Todos, absolutamente todos os personagens, não sabiam nada uns sobre os outros. Até a chegada de Ryan, Sandy achava que nenhum membro do clã Newport Beach valia a pena de se ter uma conversa. O terremoto que o garoto provocou quando chegou, aproximou Sandy de Jimmy. Antes de Atwood, Kirsten não sabia nada sobre o filho, nada sobre a própria capacidade de superar sua origem cristalizada. Essa flexibilidade lhe permitiu se aproximar de Julie. Marissa e Summer nem mesmo eram amigas de verdade, porque foi só com a chegada de Ryan que elas precisaram fortalecer esses laços.


A primeira temporada da série com uma linha de narração de dar inveja a qualquer novelão, mas se salvando do lugar comum com um texto e uma trilha sonora espertíssimos. Confirmou seu sucesso. 

O primeiro ano foi tão intenso, que parecia impossível ter pra onde seguir no ano seguinte. O Season Finale do show, com a sentida partida de Ryan, foi tão catártico que visto novamente, até hoje, emociona. E por uma razão muito simples: numa tacada de mestre, Josh Schwartz passou um ano bagunçando o mundo dos ricos para que quando a ameaça de voltar com Ryan pra seu lugar chegasse, a perspectiva daqueles personagens de retomarem sua rotina apática, os devastaria. 


Kirsten se transformou em mãe de Ryan em diferentes episódios com amor totalmente desinteressado, nos transmitindo toda a dor/ alegria de ver transformações tão positivas. Por mais sofrimento que a chegada de Ryan pudesse ter provocado, nada foi tão forte quanto os sentimentos de afeto sincero que esse evento deflagrou na vida daqueles personagens.

Então chegou a Segunda Temporada e alguns padrões começaram a se confirmar. O primeiro deles era o de que a série estava disposta a tudo. O curioso é que muitos desses padrões transformaram a Mischa Barton como antagonista com a sua "rebelde sem causa" Marissa Coper. 


O interesse romântico do herói costuma ser problemático mesmo, mas nunca foi tão transgressor quanto Marissa era. Além de mentir, roubar e se drogar, ela começou o segundo ano da série tendo uma experiência lésbica. Isso arrepiou os cabelos da FOX na época, que logo tratou de exigir mudanças, mas ainda assim, já estava feito e já era sacramentado: The OC era diferente, era realmente ousada...


Marissa, entretanto, vinha confirmando outro padrão que acabou se tornando uma garota problema: ela precisava de “projetos” novos o tempo todo, para sentir-se viva. Na primeira temporada foi Oliver, na segunda foi Trey e na terceira, Johnny. Enquanto o roteiro tentava explorar o casal separadamente... Na minha humilde opinião o casal Ryan& Marissa não tinha uma quimica como casal... Apagando muitas vezes o casal Seth&Summer que foram um casal super fofinhos nas duas ultimas temporadas.

A segunda temporada de The OC foi uma trilha-sonora muito rica. Com bandas se apresentando ao vivo no Bait Shop, de universo nerd (com o Comic Book “Atomic County”) e de tiradas de referência. Seth e Summer irritaram um pouco no triângulo interminável com Zack, mas o ótimo texto de Josh e seu time salvava a série da irrelevância. Momentos como o do “beijo do Homem-Aranha” foram responsáveis por impedir qualquer crítico de não reconhecer a nova linguagem proposta pelo show.


A série renovou a procura por clássicos de cinema e literatura, recebeu convidados de peso, ironizou com o mercado e fez piada de si mesma com a impagável The Valley. A trilha sonora com as canções arrebatadoras que tocavam em cada episódio.

No primeiro episódio da série, os roteiristas já tinham consciência de qual seria o fim mais provável da personagem Marissa. Na segunda temporada, Marissa se transformou como catalisadora das maiores tragédias do enredo. Ao mesmo tempo em que a seqüência abaixo é uma das mais bem dirigidas do programa, também condena a personagem definitivamente, à infelicidade.


A personagem de Marissa é, sem dúvida, a condutora dos maiores problemas da Terceira Temporada, que se afundou num grande “mais do mesmo” em que os únicos enredos que pareciam possíveis, eram aqueles em que ela colocava seu relacionamento com Ryan em segunda posição.

Ao invés de explorarem a ótima possibilidade de ter a personagem estudando numa escola pública, resolveram explorar a paixonite do trágico Johnny por ela. Isso diminuiu a força dela, a força de Ryan e a força do show. The OC descia numa espiral longa de chatice e quando perceberam que a série não sabia pra onda ia, já estávamos na metade final da temporada.

The OC nunca ignorou o que tinha feito com ela. Fizeram Mischa Barton viver visceralmente a escuridão de Marissa. A inadequação que a personagem redescobriu estava ali o tempo todo, na sua expressão, nas suas horas a fio no mirante da praia.Marissa se tornou uma presença infeliz. Exploraram a personagem de tantas formas cruéis, que a impossibilitaram totalmente de conseguir sair das sombras. 

O roteiro jamais fingiu que não tinha massacrado a personagem e independente dos motivos que levaram ao trágico season finale, ele era a única, definitivamente, saída possível para um quarto ano no mínimo, decente. Por outro lado, ela era a "antagonista" da história. Eu preferiria uma mudança radical da sua personagem. Como a mudança da personagem Summer por exemplo: De uma patricinha futil para uma ativista ambiental...


The OC acordou um pouco no final da terceira temporada. Matar Marissa era uma decisão arriscadíssima, mas totalmente justa. Eu como telespectadora reconheci que esse, inclusive, era o destino final que mais a honrava. Marissa era trágica, deslocada, enegrecida. Sua trajetória era a de estar em constante confronto com o próprio vazio. Seu esforço em sempre tentar “salvar” rapazes problemáticos de suas vidas, ela conheceu Ryan nessa situação... era uma fuga da própria incapacidade de reconhecer um objetivo pessoal, nuclear. Marissa não nasceu para ser feliz, ela foi construída para representar essa dor. A morte era a redenção dela e dos outros personagens...

Tudo isso ficou muito claro quando a Quarta Temporada estreou cheia de vida. O episódio em que mostra as etapas do luto de Summer demonstrou a "negação" com a morte da Marissa nos primeiros episódios dessa temporada... Eu esperava um pouquinho mais de drama... The OC renasceu tão livre e bem-humorada que chegou a dar orgulho. 

A incorporação de Caitlin manteve o tom de transgressão e a chance que deram para Taylor Towsend foi preciosa para o futuro de Ryan dentro do programa. O drama ainda estava ali, mas sempre se lembrando de ser sagaz e de flertar com o riso, com o deboche, como era e como nunca deveria ter parado de ser.

Curiosamente, ao mesmo passo em que a chegada de Ryan foi a base dramatúrgica clássica que re-configurou a dinâmica dos personagens, a partida de Marissa fez isso de novo, reinaugurando aquelas vidas e forçando-os a se reinventar. A mudança pela chegada… A mudança pela partida… The OC explorando o melhor dos berços criativos, mas infelizmente sendo castigada por isso. A série teve seu cancelamento na quarta temporada. A série nem mesmo teve tempo de completar seus 22 episódios. Por sorte, teve tempo ao menos de um encerramento digno. Os episódios 15 e 16 foram os últimos e são tão absurdamente bons que comovem até hoje. Promovem um terremoto ao som de Fredo Viola, transformam Radiohead em vinheta de intervalo… Se despedem da TV com um carinho tão grande por si mesma e pelos fãs.


Ainda nessa última temporada, em um episódio em que Taylor e Ryan vão parar numa realidade alternativa, os roteiristas confirmaram nossa analogia ao se fazerem a fatídica pergunta: E se Ryan nunca tivesse chegado? Meus queridos leitores, eu nem sei o que seria de nós se Ryan nunca tivesse chegado. Será que poderíamos superar a falta das neuroses de Seth? Será que o mundo teria a mesma graça sem a inteligência relutante de Summer? Se Ryan não tivesse chegado, nunca teríamos conhecido o trabalho deleitoso de Melinda Clarke e sua adorável cafajeste, Julie. Marissa só foi tão chorada, porque tantas vezes foi salva por Kid Chino… Taylor só me rir tanto, porque um dia ela se emocionou por ser parte de algo maior: uma amizade. Se Ryan não tivesse chegado, não haveria mudança naquele mundo de mentira… Não haveria mudança no nosso mundo de verdade.
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